segunda-feira, 17 de maio de 2010

Portanto o "quarto" segredo existia mesmo...

Antonio Socci, Da Libero, 12 de maio:

Eu o tinha dito! Quanto escrevi sobre Fátima e o escândalo da pedofilia ontem recebeu a confirmação mais autorizada que se possa imaginar: a do Papa em pessoa.

No dia 2 de abril passado – Sexta Feira Santa, em plena tempestade – na primeira página deste jornal assinei um artigo que tinha este título: “O calvário do Papa predito em Fátima”.

E, na semana passada, no site de “Panorama”, uma entrevista minha com os mesmos argumentos saiu intitulada assim: “Escândalo da pedofilia na Igreja: ‘Fátima tinha tudo previsto”.

Alguns tolos me tomaram como visionário. Mas, ontem, Papa Bento XVI, no avião que o estava levando a Fátima, fez declarações que no site do Corriere da Sera saíram com este título: “Pedofilia no terceiro segredo de Fátima. As palavras do Papa no vôo para Lisboa”. Também no site de Repubblica: “Fátima o tinha previsto”.

Uma confirmação clamorosa. Agora, porém, abre-se um outro capítulo. Porque as declarações do Papa trazem de novo atualidade a todo o dossier relativo ao “Terceiro Segredo”, desnorteando a assim chamada “versão oficial” dada em 2000 que jamais foi considerada “oficial” nem por Ratzinger, nem pelo Papa Wojtyla, mas que foi transformada em dogma por improvisados “pasticcioni” (empasteladores) e por mass media superficiais.

Em que sentido digo que recoloca em discussão aquela versão? Porque a idéia que fizeram passar é aquela segundo a qual o Terceiro Segredo de Fátima predizia o atentado a João Paulo II em 1981 e as perseguições do século XX, de modo que – foi dito e repetido – toda a profecia já teria sido realizada e concluída no século XX.

Já expliquei detalhadamente no livro O quarto Segredo de Fátima (Rizzoli) que essa versão das coisas não convence, sobretudo porque o Papa da visão caía morto no chão, enquanto Papa Wojtyla, graças ao céu, não morreu. Ademais porque, na visão, o martírio da Igreja segui-se ao do Papa, não o precedia.

Por causa desse livro tive que suportar muitos golpes baixos. Agora, porém, é o próprio Bento XVI que nos vem dizer algo de surpreendente, que reabre a discussão na direção que tentei investigar e que os documenti sugerem. Vejamos por quê.

A pergunta a que o Papa escolheu para responder (haviam sido feitas várias e essa foi escolhida) dizia: “Santidade, que significado têm hoje para nós as aparições de Fátima? Quando o senhor apresentou o texto do Terceiro Segredo, na sala de imprensa vaticana, em Junho de 2000, foi-lhe perguntado se a mensagem podia ser estendida, além do atentado a João Paulo II, mas também aos outros sofrimentos dos Papas. É possível segundo o senhor, enquadrar também naquela visão os sofrimentos da Igreja de hoje pelos pecados dos abusos sexuais de menores?”.

Eis a resposta de Bento XVI, ontem:

“Somente no curso da história podemos ver toda a profundidade, digamos assim, de que estava revestita nessa visão, possível às pessoas concretas. Além dessa grande visão do sofrimento do Papa, que substancialmente podemos referir a João Paulo II, são indicadas realidades do futuro da Igreja que pouco a pouco se desenvolvem e se mostram. Isto é verdade que além do momento indicado na visão, fala-se, se vê a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se reflete na pessoa do Papa. Mas o Papa está na Igreja e, portanto, são sofrimentos da Igreja que se anunciam (…).

Quanto às novidades que podemos hoje descobrir nessa mensagem, é também que não só de fora vem os ataques ao Papa e à Igreja, mas os sofrimentos da Igreja vem justamente do interioo da Igreja, do pecado que existe na Igreja (…). Hoje nós o vemos de modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem dos inimigos de fora, mas nasce do pecado na Igreja”.

Sintetizamos a resposta do Papa. Mas há coisas suficientes para refletir longamente. Por enquanto, parece evidente que para Bento XVI o Segredo de Fátima não é uma profecia já encerrada com o atentado de 1981 contra Wojtyla, mas está ainda em curso.

De fato, Bento XVI diz explicitamente, que na visão “são indicadas realidades do futuro da Igreja que, pouco a pouco se desenvolvem e se mostram”.

Entre as “novidades” que descobrimos hoje (o Papa diz extamente “novidades”) há aquela desconcertante de que os sofrimentos da Igreja, “a maior perseguição da Igreja não vem dos inimigos de fora, mas nasce do pecado na Igreja” e “hoje o vemos de modo realmente terrificante”.

Isto contradiz a interpretação que tantos deram no ano 2000, que, em vez disso, falava somente das perseguições que vem de fora. Mas é muito mais aderente à visão dos três pastorezinhos, sobretudo à primeira parte assim descrita por Irmã Lúcia: “O Santo Padre, antes de chegar lá (à cruz e ao martírio, nota do autor), atravessará uma grande cidade meia em ruínas e meio trêmulo com passo vacilante, afligido de dor e de pena, rezava pelas almas dos cadáveres que encontrava em seu caminho”.

Evidentemente, era um erro colossal interpretar a “cidade meia em ruína” e os “cadáveres” como símbolo das perseguições, porque os mártires não teriam tido necessidade de orações e porque o martírio da Igreja, na visão, segue-se ao do Papa: a cidade meia em ruínas e os cadáveres por cujas almas o Papa rezava sofrendo descreviam antes a situazão da Igreja definida “terrificante” pelo Papa Ratzinger, isto é, a Igreja oprimida pelo pecado e pela apostasia de seus membros. A Igreja de hoje.

Tudo isso leva inevitavelmente a reter, porém, que o martírio, do Papa (que será verdadeiramente assassinado) e o da Igreja, deva se colocar no futuro, que deve ainda realizar-se.

E leva mais uma vez a considerar que as desconcertantes palavras da Via Crucis de 25 de Março de 2005, aquelas sobre “sporchizia” na Igreja”, sobre os sacrilégios e sobre a barca que está para afundar, palavras escritas e desejadas por Joseph Ratzinger e Karol Wojtyla, fossem na realidade a revelação (ainda que não declarada) da parte do “Terceiro Segredo” que no ano 2000 não foi revelada, isto é, a parte contendo as palavrase da própria Nossa Senhora, comentando a visão.

Sobre esta parte pesava um juízo negativo de João XXIII (que suspeitava que fossem palavras de Lúcia e não de Nossa Senhora), juízo confirmado por Paulo VI.

Evidentemente João Paulo II e o Cardeal Ratzinger – que pretendiam atender o pedido de Nossa Senhora de tornar pública a mensagem, mas não queriam desmentir publicamente os seus predecessores (mesmo constatando a autenticidade também da segunda parte) – decidiram fazer conhecer através daquela Via Crucis ao povo cristão toda a mensagem de Nossa Senhora.

É bastante significativo que essa peregrinação a Fátima de Bento XVI aconteça hoje. Ele se dirigu ao santuário em 2007, quando do aniversário das aparições, quando teria sido mais óbvio.

Mas ele se dirige hoje para lá, como a abrigo na tempestade escandalosa da pedofilia na Igreja e o faz com três intenções bastante significativas: rezar pela Igreja, pelos sacerdotes e pela paz no mundo. Três temas que todos levam ao ao Terceiro Segredo.

Agora talvez certas forças da Cúria procurarão evitar que essas declarações, tão explícitas, do Papa sejam compreendidas em todo o seu alcance e quem sabe corrigidas por ele.

Mas o escândalo da pedofilia claramente fez emergir a grande lição do Papa: não ter medo da verdade. Jamais. Nem mesmo quando é uma verdade dolorosa e até se é uma verdade vergonhosa para a Igreja (não por acaso o seu lema episcopal é: “Cooperatores Veritatis”).

Ontem o Papa concluiu assim: “a Igreja tem portanto profunda necessidade de re-aprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender o perdão, a conversão, a oração. Sempre o mal ataca, desde o interior e do exterior, mas sempre também as forças do bem estão presentes e finalmente o Senhor é mais forte que o mal e Nossa Senhora para nós é a garantia. A bondade de Deus tem sempre a última palavra na história”.

Antonio Socci - "Portanto o "quarto" segredo existia mesmo..."
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=papa&artigo=dunque-il-segretto&lang=bra
Online, 17/05/2010 às 11:09h

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